Você prefere ter boa reputação ou bom caráter?

Boa reputação ou bom caráter
Boa reputação ou bom caráter
Boa reputação ou bom caráter

Caráter é diferente de Reputação porque o segundo precisa de uma plateia, mas não o primeiro. E aqui cabe pensar o quanto é verdade quando dizemos que não nos importamos com o que os outros pensam.

O prestígio de alguém se forma da construção de opiniões sobre esse alguém em determinado meio.  E nem sempre significa que essa pessoa tenha um caráter que corresponda a ele.

Num tempo em que as evidências públicas são mais importantes que o caráter e as certezas pessoais, a promessa de construir uma autoridade digital quase do zero, parece encher os olhos de muita gente.

Uma pessoa muito empenhada em tornar-se conhecida e influente necessariamente não é mais digna que qualquer outra, mas os meios digitais prometem a ela um conceito satisfatório se ela fizer uso das ferramentas certas.

Não é difícil concluir que essa facilidade pode ser bem mais útil aos impostores do que aos honestos autênticos.

No mundo digital, ou você pensa ou é pensado; ou planeja ou é planejado. Em nenhum outro contexto essa máxima é tão verdadeira quanto ali. Ou você é o vendedor, ou é o produto sendo vendido.

E isso quer dizer que estamos em apuros, pois não basta ter a consciência tranquila por ter feito o seu melhor, é preciso comprovar publicamente.

O problema é que a comprovação sempre requer pagamento.

Nunca houve e nunca haverá quem seja exclusivamente louvado ou exclusivamente criticado, e o normal de cada ser humano é não ser uma unanimidade. Nossa integridade não pode depender das críticas e honras que recebemos.

Devemos permitir que as pessoas cheguem às conclusões que quiserem, pois essas conclusões são delas e tem mais a ver com elas do que conosco.

São João Crisóstomo em seus sermões dizia que é mais fácil um homem renunciar a seu dinheiro e seu poder do que a sua reputação.

E as redes sociais estão aí para aproveitar essa verdade ao máximo.  Elas fazem parecer simples construir e manter uma imagem pública, mas não é bem assim.

Quem assistiu ao filme A Rede com Sandra Bullock na década de 90, pôde ver um prenúncio do poder que os meios digitais têm de destruir a vida de uma pessoa.

Hoje em dia, nossos perfis determinam nosso lugar de fala, restringindo nossa autoridade em diversos assuntos, principalmente nas entrelinhas do que não está escrito.

Além disso, o algoritmo transforma nossos discursos em salada de palavras e apenas as classifica como positivas ou negativas. Se elas são usadas no contexto de raiva, ele pode determinar que uma pessoa está com raiva quando usa essas palavras.

E se dá o direito de punir e recompensar com base no que concluiu, tomando decisões que podem destruir a presença das pessoas na rede social, sem qualquer direito à defesa, mesmo quando ele está errado.

A rede social é como um grande galinheiro, apenas joga-se o milho e registra-se como as aves se comportam perante o milho jogado.

Não existe o direito ao meio termo. Somos como galinhas: ou comemos ou não comemos o milho, curtimos ou não curtimos. E como seres desumanizados não podemos refletir ou opinar de forma complexa.

Nossas reflexões são apenas como piar alto, piar baixo ou não piar

Enfim as qualidades universais são melhores para falar sobre quem somos.

Nós merecemos um meio de discussão à nossa altura, mas à medida que virtualizamos nossas interações, principalmente fazendo uso das redes sociais, também renunciamos ao que nos caracteriza como seres humanos.

Será que a construção de nosso caráter em detrimento dessa reputação vai caber no universo restrito que estamos ajudando a construir com tanto empenho?