As controvérsias no diagnóstico da Esquizofrenia

As controversias no diagnostico da esquizofrenia

As controversias no diagnostico da esquizofrenia

Quando se trata do diagnóstico da esquizofrenia, os médicos e pesquisadores enfrentam um obstáculo complexo, pois as definições e critérios semânticos surgiram antes de qualquer comprovação orgânica de doença.

Sabemos que isso ocorreu para encarcerar o que chamaram “erro sensorial” em um estigma de anormalidade.

A esquizofrenia é mais um consenso que uma entidade nosológica, e isso ocorre porque as alucinações e delírios são expostas como vivências reais e muitas vezes tão ricas em detalhes que parecem ter sido realmente vividas.

Há uma clara falta de capacidade do acometido em lidar com as ocorrências, e não existe correlação entre dano neurológico e a espécie do sintoma.

Por exemplo: Quando o paciente nega ou rejeita partes do próprio corpo como se não fossem dele, há clareza da ocorrência de dano neurológico. Entretanto um paciente ter longas conversas com o avô falecido, não indica um endereço específico para a lesão anatômica.

A ciência médica fez muitas descobertas, porém até hoje não encontrou o que seja característico da esquizofrenia.

Como afirmamos, o conceito em si precedeu as descobertas que caracterizam outras patologias neurológicas. E ainda hoje ela permanece sem enquadramento.

O diagnóstico da esquizofrenia

Não existem exames de sangue ou de imagem que nos deem direção diagnóstica sobre a Esquizofrenia, portanto o parecer sobre a condição é essencialmente clínico.

Mesmo o exame clínico se utiliza de dados subjetivos, que são obtidos da aplicação de escalas de verificação de sintomas. Não existem exames complementares que possam ser pedidos.

Apesar de existirem muitas pesquisas indicando correlação positiva, solicitar um exame de imagem do cérebro não serve nem para o diagnóstico, nem para o acompanhamento da doença, bem como não ajuda no prognóstico da condição em si.

A base para o diagnóstico é dada pela verificação de sintomas subjetivos por um observador que fará uma avaliação igualmente subjetiva.

Portanto, ainda permanece um desafio encontrar métodos eficazes para medir a isenção e a empatia do examinador, pois um juízo mal aplicado pode prejudicar o paciente.

Correlacionar corretamente todos esses dados, em sua maioria subjetivos, é tarefa difícil e suas conclusões ou são puramente estatísticas ou são reduzidas a uma questão de opinião.

A questão do examinador

Portanto, o ponto mais subjetivo e complexo do processo é, sem sombra de dúvida, o examinador.

Enquanto ele tende a colocar toda e qualquer experiência de alucinação no mesmo saco, passa a ter pouca capacidade de qualificar com segurança a gravidade do quadro que está avaliando.

Ele vai tender a se apoiar mais em nomenclaturas do que no bom senso, deixando de lado aspectos psicodinâmicos do paciente.

Nesse caso, cabe lembrar a existência de outras condições que apresentam fenomenologia similar.

Se compararmos os sintomas das psicoses com outros estados alterados da consciência, como o estado secundário ao uso de drogas alucinógenas e as experiências de quase morte (EQM), verificamos que se trata do mesmo fenômeno sensorial.

Porém o examinador desqualificado pode conseguir agrupá-los no mesmo guarda-chuva da Esquizofrenia.

A subjetividade das escalas passa de modo perigoso por essas experiências, principalmente ao considerar os critérios diagnósticos do DSM-V.

A própria ciência costuma tratar a subjetividade como irrelevante, mas no caso do diagnóstico da esquizofrenia, não deixa de usá-la porque lhe convém, e todas as margens de dúvida são ignoradas.

Além disso, a própria definição das doenças está sujeita a dúvidas. Pois o diagnóstico psiquiátrico é influenciado pelas ideologias da época em que é praticado.

Chegamos a um ponto onde não duvidamos mais se a esquizofrenia é mesmo uma doença, e sequer nos perguntamos o que é um diagnóstico ou o que é uma doença.

Enfim, nossa prática psiquiátrica nos deixa plenos de certezas, tendendo a ignorar a marginalidade e a dúvida. E infelizmente, dessa quase onipotência, poucos querem abrir mão.