A ascensão dos vilões na jornada do herói

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A ascensão dos vilões na jornada do herói

A ciência do marketing utiliza arquétipos milenares para promover e restringir interesses nas pessoas. E a jornada do herói é uma das ferramentas utilizadas neste contexto.

Isso pode ser considerado um imenso poder.

E é inegável que pode direcionar a humanidade para as sombras, se assim o quiser.

Na medida em que a ideologia neoliberal enalteceu as jornadas de indivíduos solitários e vitoriosos, acabou-se criando uma abertura para que pessoas de diversas índoles criassem e se identificassem com seus próprios heróis.

E foi a globalização digital junto com as redes sociais que permitiram a criação de bolhas populacionais de pessoas com opiniões parecidas.

A nova jornada do herói

Assim os antagonistas das histórias de ficção também acabaram ganhando direito à redenção através do sucesso que alcançavam em seus próprios fã-clubes.

E a humanização do vilão mostrou que eles dão lucro, tornando a identificação gerada por personagens de ética duvidosa uma mina de ouro.

Mas é claro que isso não ocorreu apenas nas telas. A ascensão da extrema direita no mundo tem contado com personagens criados cuidadosamente para arrebanhar públicos bem específicos.

Passamos a entender então que o Marketing não visava alcançar as personas só para vender produtos.

Mas ele acabou descobrindo que, através da tecnologia, teria poder para criar suas próprias personas para manipular seus públicos para o que quer que quisessem.

Como efeito colateral da segmentação de públicos, a sociedade ficou polarizada, o que gerou diversas novas formas de segmentação de público.

Juntando a isso a popularização do “lado escuro da força”, as pessoas perderam a vergonha de se identificar com vilões.

Então, todo esse movimento facilitou que a sombra de cada um de nós passasse a ser encarada com um certo “orgulho”. E a fórmula firmada por Joseph Campbell ajudou a chegarmos nisso.

Surgiram diversas produções para justificar vilões, como Malévola, Fenix Negra, Coringa, Magneto, etc… apresentando o suposto lado sensível e humano de cada um deles. E todos nos foram apresentados pelo mesmo método de storytelling.

Muitas histórias foram retomadas e o antagonista Darth Vader ganhou uma série inteira de filmes só para sua redenção.  Uma produção milionária cuja intenção foi transformar um assassino cruel em herói.  E foi um imenso sucesso.

É inegável que as histórias recontadas desses personagens têm um grande apelo ao público.

Afinal, os heróis tradicionais sempre foram repletos de qualidades positivas e sem defeitos.

Isso sempre tornou muito difícil sentirmos alguma empatia por eles. A perfeição que representavam parecia não caber no mundo real.

Então o surgimento de heróis mais sombrios, com dúvidas convincentes sobre a própria ética e caráter, trouxe uma atmosfera de realismo ao mundo da ficção.

A parte ruim é que, justamente com o advento da tecnologia, a ficção e a realidade acabaram paulatinamente perdendo os limites que as separavam.

Então é compreensível que as histórias de vilões tenham se tornado mais interessantes para o público, e talvez até mais do que as que falam sobre heróis positivos.

Pois, lá no fundo, a gente se reconhece muito mais nestes vilões…

Por terem um lado ruim e um lado bom, são mais próximos de nossa realidade do que os personagens completamente bonzinhos e sem falhas…

Jung e Hermes Trismegisto explicam perfeitamente que somos todos feitos de luz e sombras e que geralmente não gostamos muito dessa última.

Mas precisamos entender que faz parte do processo de evolução experimentar e conhecer as nossas sombras como parte de nós e não devemos colocá-las nos outros.

Se pudéssemos entender essa dicotomia como sendo os lados de uma mesma moeda, se reduziria o espaço para sermos manipulados…

Portanto, na nossa jornada do herói pessoal, estamos muito longe da redenção final…

 


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